O passo mais importante para o sucesso da sua solução, e que deve existir antes mesmo da sua ideia.
Hoje gostaria de falar um pouco sobre aquilo que acredito ser muito importante para a vida de qualquer um, seja no âmbito pessoal ou profissional: definição de problemas. Como já estou nesse mundo de empreendedorismo, inovação e startups há um tempinho, já vi, ouvi e dei meus pitacos em muitas ideias de muitos empreendedores. Entretanto, quase sempre me vejo tendo que fazer a mesma pergunta, que gera certo constrangimento (mas não deveria), para essas mesmas pessoas:
Qual problema você resolve? Por quê?
Bem, o post de hoje visa falar um pouco mais sobre problemas e como defini-los. Parece algo banal, mas acredite em mim, trata-se talvez da atividade mais importante que você pode fazer dentro do seu negócio, especialmente no início de sua jornada.
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/dicion%C3%A1rio-livro-aprender-613910/
Recentemente fui convidado para tocar um programa de aceleração de ideias junto ao Sebrae que visa auxiliar estudantes do ensino médio e graduação de Instituições de Ensino do Brasil a adentrarem ao mundo do empreendedorismo. Desde o primeiro dia, tento fazer um papel daquela pessoa que, mesmo amando ver olhos que brilham em busca de conhecimento, trará algumas não tão boas notícias. Especialmente porque em nosso primeiro contato, é preciso desmitificar alguns pontos sobre startups e negócios inovadores. Principalmente o “apego a ideia genial”.
Nos primeiros momentos é preciso explicar que uma ideia não é o que você empreendedor precisa… vai por mim, você precisa de um problema! Portanto, tento mostrar a importância de se ter um problema. Por quê? Porque quase tudo que envolve o desenvolvimento de um negócio inovador é incerto… agora, imagine-se se colocando no lugar de alguém que tem desejo de investir tempo e dinheiro em um negócio como tal? Essa talvez seja uma das poucas dúvidas que ele consiga tirar nos primeiros instantes que avalia o investimento: a relação do empreendedor com o problema que ele decidiu resolver.
Você deve estar se perguntando: qual seria a segunda coisa que essa pessoa consegue validar? Por incrível que pareça, outra coisa que ele é capaz de validar, além da relação do empreendedor com o problema, é a sua própria relação com esse problema. Como assim? Veja bem, problemas existem desde que o mundo é mundo… Eles não mudam… O que acontece é que a importância que damos e a forma como lidamos com eles varia ao longo do tempo. Mas se você fizer um exercício para imaginar aquelas soluções que você mais gosta e que hoje mais utiliza (pode ser qualquer app, startup ou utensílio), perceberá que se voltarmos pouco mais de 2000 anos no tempo, quando o bebê Jesus nascia, esse problema já existia e, por incrível que pareça, já existiam pessoas tentando resolvê-lo. Como assim?
Como mencionado no post sobre “MINDSET de STARTUPS”, uma startup ou negócio inovador precisa resolver um problema de maneira diferente (e melhor) do que a maneira como este é atualmente resolvido para que possa garantir seu sucesso. Eu poderia explicar alguns conceitos que explicam isso, como “jobs to be done” ou JBD (Ulwick, 2005) (Christensen, 2016) e “teoria da atividade” (Vygotsky, 1978). Infelizmente, falarei apenas, e mais brevemente, sobre o “jobs to be done” (tarefa a ser realizada) do Anthony Ulwick por ser um tema mais comercial e palpável. A verdade é que qualquer solução existente busca resolver algumas tarefas (jobs) para algumas pessoas e, tais tarefas, sempre existiram… Em um post futuro falarei um pouco mais profundamente sobre os “jobs to be done” e seus diferentes tipos.
Características de um “job to be done”
Fonte: Grand Designs Inovação
Ulwick defende que “para uma inovação ter sucesso, é preciso haver um acordo sobre o que significa necessidade e os tipos de necessidade que os clientes possuem”. Ainda, “o objetivo da inovação é desenvolver soluções para necessidades não atendidas de clientes”. Ouso acrescentar que essas necessidades não atendidas podem ser consideradas como “lacunas” da forma como é feito atualmente. Como mostrado na figura acima, um job pode seguir o que alguns chamam de “job stories”, ou seja, sempre que uma SITUAÇÃO ocorre, uma MOTIVAÇÃO surge, nos auxiliando a imaginar um RESULTADO ESPERADO.
Portanto, como podemos definir um problema? Segue aqui um passo a passo de como se tornar mais íntimo do problema que seu negócio visa resolver, mesmo que você já possua uma solução operando, fazendo dinheiro etc. essa será uma boa dica para você poder pensar em maneiras de como melhorá-la ainda mais.
Uma ferramenta muito conhecida do mundo do design, também utilizada em frameworks como o Design Sprint, o “Como Nós Podemos?” possui como principal novidade e valor agregado o fato de ser uma espécie de brainstorming de perguntas. Isso mesmo!! Ao invés de tentarmos buscar soluções por meio de palpites coletivos, buscamos perguntas. E como funciona? Todos os integrantes devem discutir ou levantar o máximo de perguntas no formato “Como Nós Podemos” possíveis e, após isso, selecionam as mais importantes. Ainda, dentre as selecionadas, tentam escolher:
- Aquela que se assemelha mais com o “propósito” (ou razão de existir) do negócio que estão a criar.
- Aquela que talvez seja a hipótese mais clara e palpável de uma futura solução.
- Aquela que talvez indique a um dos principais desafios (ou barreira) a serem vencidos pelo seu negócio.
Após escolher (modificando ou não) essas três perguntas, você possui tudo que precisa para definir bem um problema. Um problema bem formulado precisa ter significado e ser capicioso. Um grande indicativo para um problema capicioso é a existência de uma contradição, ou seja, por mais que tenhamos um propósito bem definido, assim como uma hipótese de como poderíamos cumprir com ele, sabemos que existe algo que nos atrapalha.
Ferramenta “Problem Shaping”
Fonte: Grand Designs Inovação
Se você chegou até aqui, te desafio a formular o problema do seu negócio seguindo a indicação da figura acima. Lembrando, trata-se de uma sugestão para dar sentido e motivação para aqueles que buscam criar uma solução inovadora. Outra coisa muito importante a ser mencionada é que “não precisa ser escrito em pedra”, ou seja, um problema, ou a sua percepção sobre ele, pode e deve mudar ao longo do tempo por diversos motivos.
Espero ter conseguido fugir um pouco do “mais do mesmo” com as dicas enviadas aqui e, claro, abordarei esse assunto com mais profundidade em uma outra ocasião.
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REFERENCES
- Christensen, Clayton M., Taddy Hall, Karen Dillon, and David S. Duncan. “Know Your Customers’ ‘Jobs to Be Done’.” Harvard Business Review 94, no. 9 (September 2016): 54–62.
- Ulwick A. Jobs to be done: theory to practice. – [s.l.] : Idea Bite Press, 2005. – 1 : Vol. 1.
- Vygotsky L. S., Cole M. and Souberman E. Mind in Society: Development of Higher Psychological Processes [Journal]. – [s.l.] : Harvard University Press, 1978.
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