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MINDSET DE STARTUP

Com certa frequência participo de eventos para falar sobre startups. Claro que são eventos do gênero e por isso não há necessidade de falar sobre o que parece “óbvio” para aqueles que já são do métier. Em uma outra oportunidade entrarei no mérito sobre o que realmente deve ser considerado óbvio, bem como o que há de mitos e falácias existentes nesse mundo. Hoje vou falar a respeito do que entendo serem os principais motivos do “mindset de startup”. Portanto, o post de hoje visa trazer entendimentos não tão óbvios, mas também não científicos, sobre o que significa uma startup e, principalmente, sobre ser alguém que pensa como o “dono” de uma.

Desde o início dos anos 2000 as startups ganharam mais destaque nos diferentes meios de comunicação, assim como em conferências ou rodas de conversas existentes em happy hours entre profissionais. É importante lembrar que essas startups existem há muito tempo. Desde os anos 1980 já percebemos a existência de muitas. Entretanto, o que seria uma startup? Existem muitas definições sobre o que é uma startup e claro, irei começar pelas mais famosas, e dos mais famosos:

  • Steve Blank: “uma startup é um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza, que trata das principais características e desafios deste tipo de negócio”.
  • Eric Ries: “Uma startup é uma instituição humana desenhada para criar um novo produto ou serviço em condições de extrema incerteza.”
  • Paul Graham: “Startup é uma organização projetada para crescer rapidamente.”
  • Gabriel Weinberg: “Uma startup é uma empresa projetada para crescer rapidamente e você cresce rapidamente obtendo tração. Procurar tração cedo pode acelerar contra intuitivamente sua busca por PMF.”

Note que muitas dessas definições tocam em assuntos comuns que sugerem possíveis características de startups, como: “ambientes de extrema incerteza”“modelos de negócios repetível e escalável”“instituição humana”“criar um novo produto”“crescer rapidamente”, assim como o tal do “PMF” (product-market fit) ou “alinhamento de produto e mercado”.

Vale lembrar também dos muitos outros termos que esse mundo das startups inclui e que estão na boca de todos, como: “MVP”, “pivotar”, “perseverar”, “disruptivo”, “canvas” etc. Infelizmente não darei muita atenção a tal falácia nesse momento, mas farei questão de cobrir alguns pontos que os justificam em um próximo post. Sobre os temas mencionados pelos autores citados, muitos realmente são bastante importantes e característicos de Startups, entretanto, é preciso esclarecer seus significados e diferenciar de outros comportamentos empresariais. Portanto, vamos lá 😉

Quando é citado que uma startup é uma “instituição humana”, existem dois pontos a serem esclarecidos. Primeiro, porque depende de pessoas para conseguir fazer o seu trabalho de descobrir uma necessidade/forma de resolver um problema para o seu cliente, principalmente durante a descoberta do cliente. A segunda é que talvez o termo “humano” possa se referir ao cliente que, por mais que estejamos adicionando mais IA em nosso dia a dia, ainda estamos dando as ordens quando se trata de ser um cliente, certo?

E as “condições de extrema incerteza”? Nesse caso, precisamos elaborar um pouco mais a resposta, até porque tais condições existem por uma das razões da própria essência de uma startup: resolver uma necessidade de um grupo de pessoas (clientes). Para ter sucesso precisam gerar ou adicionar valor àquilo que já existe, ou seja, a startup precisa resolver um ou mais problemas que já existiam na vida desses clientes de maneira diferente e melhor. Entretanto, como garantir que essa maneira é melhor? Voilà! Esse “ambiente de extrema incerteza” trata do trabalho que todo empreendedor precisa fazer para validar a forma diferente e melhor que ele decidiu resolver tais problemas, seja por um prisma social, emocional ou de mercado.

Agora vamos ao ponto do “modelo de negócios repetível e escalável” e entender a diferença de um para o outro, como organizações lidam com cada uma dessas características e o significado da soma das duas. Ser “repetível” é uma luta tão antiga quanto constante de qualquer organização para sua sobrevivência, ou seja, buscar excelência operacional naquilo que entendeu como oportunidade de mercado, gerando vantagem competitiva perante seus concorrentes, muito por essas conquistas realizadas em cada nível operacional. Imagina que uma empresa consegue ser repetitiva, entretanto, o grande desafio das startups vai além da sua capacidade de repetir aquilo que traz vantagem competitiva, ela precisa também fazê-lo de maneira a não aumentar sua estrutura de custos na mesma proporção de suas receitas. A grande verdade é que as startups buscam uma “exponencialidade” na relação entre o seu aumento de receitas e custo operacional. Em outro momento falaremos sobre o conceito de “organizações exponenciais” de Salim Ismail e Peter Diamandis (2015).

Seguindo alguns grandes estudiosos como Clayton Christensen seria possível até fazer uma relação entre essas duas características (repetível e escalável) e a capacidade de uma empresa em sempre conseguir inovar. Estaríamos discutindo o conceito de Dilema da Inovação do próprio Christensen (1997). Isso pode explicar e validar a característica de uma startup ou o valor que ela pode trazer para o mundo dos negócios, uma vez que, segundo o próprio conceito, o dilema da inovação é recorrente em grandes organizações que buscam justamente a “excelência operacional”. Justamente por se tornarem capazes de serem repetitivas, perdem sua capacidade de criar inovações de ruptura, e expandir mercados e/ou construir escala. Mais uma vez peço perdão, mas entrarei mais a fundo no dilema da inovação em um outro post.

Para encerrar e não tornar esse post ainda mais maçante, uma startup é uma instituição feita para crescer rapidamente? É e não É! … Por quê? Como explicado anteriormente, alguns desses “modelos de negócios repetível e escalável”, são frutos de uma solução inovadora que visa resolver melhor um problema já existente para um grupo expansível de clientes e, por isso, gerando um “ambiente de extrema incerteza” para essa “instituição humana”. Por mais que tenhamos demonstrado que essas características levam a um crescimento exponencial, o que há de importante a ser observado em tudo isso é que durante todo esse processo, tal negócio vive às escuras ou sem destaque aos olhos dos observadores.

O que isso quer dizer? Significa que tal fenômeno pode não ser observável por muitos e, somente quando essas startups entram em seus momentos de exponencialidade, começam a realmente atrair a atenção de todos, gerando uma falsa sensação de crescimento extremamente acelerado. Entretanto, já conhecemos muitas histórias de negócios que ficaram por anos validando seus negócios até realmente crescerem.

Eu possuo uma “teoria de boteco” que afirma que o potencial de escala e mercado de uma solução é inversamente proporcional a sua capacidade de faturar no momento que a análise é feita. Essa afirmação tem um certo relacionamento com o que defende Gabriel Weinberg (2014) em seu livro “Traction: How Any Startup Can Achieve Explosive Customer Growth”, mas mais com um paradoxo relacionado com a plenitude da Proposta de Valor e os Modelos de Receita de uma Startup. Juro que vou escrever sobre isso! Acho que é algo que precisa de mais rigor acadêmico.

Resumindo tudo que foi dito, quando um grande amigo de infância, em um churrasco de confraternização entre pessoas que há muito não se viam, me perguntou o que era uma startup, tive que resumir a ponto de explicar algo que não tem nada de óbvio. Por isso, relacionei com algo que parece ser óbvio para muitos: uma corporação tradicional. Se eu pudesse dizer a principal diferença entre uma grande organização e uma startup, eu diria que a primeira cria um produto e depois descobre um jeito de vendê-lo cada vez mais, fazendo por menos. Entretanto, a segunda busca encontrar um problema que precisa ser mais bem resolvido, desenha uma solução e busca achar um meio de entregá-la para esses clientes e continuar tendo lucro, preferencialmente bastante.

Espero que tenham gostado do post de hoje e que, mais uma vez, eu tenha conseguido sair do óbvio nesse mundo que, por mais complexo que se mostre, seja tão cercado de “obviedades”. Finalizo esse post com a sensação de que fiz muitas promessas :/

Reference

  • Christensen, C. M. (1997). The Innovator’s Dilemma: When New Technologies Cause Great Firms to Fail. Boston, MA: Harvard Business School Press.
  • Ismail S., Malone M. S. and van Geest Y. (2015). Organizações Exponenciais. Rio de Janeiro : HSM — Vol. 1.
  • Weinberg, G., Mares, J. (2014). Traction: How Any Startup Can Achieve Explosive Customer Growth. S-curves Publishing. New York, United States.
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