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DESAPRENDENDO O ERRADO; APRENDENDO O CERTO… OU AMBOS?

Reflexões sobre aprendizagem, (des) apendizagem e aquilo que parece errado ou certo de se aprender em diferentes momentos da vida.

Texto original em medium.com

Hoje gostaria de falar um pouco sobre aquilo que acredito ser muito importante para a vida de qualquer um, seja no âmbito pessoal ou profissional: aprendizagem sobre como lidar com desafios. Como muitos sabem, sou frequentemente convidado para realizar workshops sobre metodologias de desenvolvimento de ideias e solução de problemas, assim como programas de aceleração de ideias e negócios. Pois bem, recentemente fui convidado a facilitar um hackaton” destinado a estudantes de 12 a 16 anos.

Que existe uma grande diferença entre ensinar algo para jovens em formação e adultos não é novidade para ninguém. Não à toa, existem disciplinas como pedagogia, que estuda a aprendizagem desses jovens, e a andragogia, que foca nos adultos.


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/professora-aprendendo-escola-ensino-4784917/

Para aqueles que não sabem o significado de um Hackathon, originalmente focado em programação, o termo hackathon surgiu da junção das palavras “Hack”, associado a romper ou desafiar, e “Marathon”, do inglês maratona. Desde então, eventos nesse formato desafiam os participantes de todas as áreas a encontrarem soluções inovadoras. Portanto, pode-se dizer que é uma combinação entre programação e maratona, trazendo eventos que reúnem programadores, designers e outros profissionais ligados ao desenvolvimento de software onde pode durar desde um dia a uma semana e em geral é um ambiente ideal para o desenvolvimento da inovação e resolução de desafios.

As primeiras versões dos Hackathons surgiram no final da década de 1990, no Canadá. Durante uma conferência da JavaOne, a SUN desafiou dez programadores a criar um script em Java que permitiria a comunicação segura entre usuários do Palm V. Com o tempo, muitos benefícios ficaram claros para justificar o uso dessa estratégia, como:

  • fomentar a inovação;
  • desenvolver novas técnicas e habilidades na organização;
  • integrar os funcionários com foco no trabalho em equipe;
  • aprimorar o networking nos participantes.

Portanto, o post de hoje visa falar um pouco mais sobre essas iniciativas inovadoras, mas também fazer um questionamento sobre o processo de aprendizagem, especialmente para jovens. Parece algo sem conexão, mas acredite em mim, quando falamos de negócios, formação de liderança e aprendizagem de jovens, estamos discutindo assuntos extremamente correlacionados.

Como dito anteriormente, já idealizei e participei de diversas iniciativas de criação de novos negócios inovadores, assim como os hackathons. Especialmente, recentemente participei do que é chamado de “Ideathon” voltado para jovens entre 12 e 16 anos que estudam na rede educacional brasileira. O que há de tão interessante e diferente dos exemplos de hackathons existentes e conhecidos por todos?

Muita coisa! A primeira delas é claro são os jovens… um público de crianças que começa a olhar para o empreendedorismo mesmo ainda tão jovens. Se você está lendo esse post, te desafio a pensar quando foi a primeira vez na sua vida que você ouviu a palavra empreendedorismo. Podemos ir ainda mais longe no desafio: quando foi a primeira vez que você praticou deliberadamente o empreendedorismo? Portanto, trata-se uma visível mudança na forma de como os jovens se preparam e imaginam o mercado.

Mas por que isso?

Podemos dizer que com a chegada das plataformas de criação de conteúdos, muitos jovens empreendedores “milionários” foram apresentados a um público bem jovem (assim como outros nem tão jovens assim). Pode-se dizer que esse novo perfil de ídolos ou líderes, criadores de conteúdos, cada vez mais jovens, sem necessariamente possuir formação tradicional, explica o fato de observarmos jovens – cada vez mais jovens – em busca de mergulhar no empreendedorismo.


Fonte: https://www.brightidea.com/guide/hackathon/what-is-a-hackathon/participants/

PROSUMERS

Estudos que articulam trabalho e consumo vêm sendo realizados por uma série de autores que tratam do prosumption ou co-criação do consumidor como produtor de valor, em especial por meio da internet. Segundo Bauman (2001), a formação da sociedade está associada a viver um estilo de vida que tem na busca incessante de felicidade como seu principal motor. O consumo ganha outra dimensão ainda não suficientemente explorada na relação de trabalho ou de emprego. Portanto, por vivermos na “sociedade do consumo”, o papel do usuário passa a ser muito maior do que somente consumir um produto, mas ajudar outros usuários a consumi-lo. Segundo o autor “trabalho e consumo se confundem tornando-se impossível separar tempo de trabalho de não trabalho”.

Não é mais possível somente olhar para a produção de qualquer bem ou valor sem considerar o consumidor. Entretanto, começamos a observar estudos nas fronteiras da produção e consumo. Portanto, o prosumeré aquele que interage com ferramentas como Youtube, Wikipedia, Facebook, Booking Etc. (Ritzer, 2014). Em alguns casos, como no Youtube, ele chega a ser ainda mais protagonista.

Portanto, já sabemos o porquê de vermos cada vez mais iniciativas de empreendedorismo associadas ao público jovem, eles já são protagonistas e geradores de valores para a sociedade criativa. Entretanto, o que há de diferente quando “ensinamos” esses jovens a se tornarem mais empreendedores?

Primeiramente, deve-se mencionar que esses jovens precisam “desaprender” menos do que os adultos. Infelizmente, nossa formação regular ainda é baseada no ensino de técnicas que se baseiam em mitos que administração tradicional ainda confia como:

  • “formação de preço de um produto ou serviço é a soma de seus custos para comunicação e entrega ao consumidor final”;
  • “uma empresa precisa criar um produto para depois descobrir as melhores estratégia de marketing para poder vende-lo”;
  • “fazer cada vez melhor e/ou mais barato o mesmo produto”;
  • dentre muitas outras “verdades incontestáveis” …


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/garota-literatura-divers%C3%A3o-crian%C3%A7a-3038974/

Esses e muitos outros são “ensinamentos” comuns em MBAs e Escolas de Administração tradicionais. Entretanto, toda vez que um profissional de alto nível precisa lidar com os principais desafios de uma empresa, precisa desaprendê-los e aprender conceitos bem menos simples de serem internalizados. Conceitos tais que não são tão concretos quanto os mencionados acima e, portanto, de muito mais difícil prática e entendimento.

Segundo Alvin Toffler (1970): “Ao instruir os alunos sobre como aprender, desaprender e reaprender, uma nova e poderosa dimensão pode ser acrescentada à educação”. Para o Psicologista Herbert Gerjuoy (1964), trata-se de uma simples questão onde: “A nova educação deve ensinar ao indivíduo como classificar e reclassificar a informação, como avaliar a sua veracidade, como mudar de categoria quando necessário, como passar do concreto para o abstrato e vice-versa, como olhar para os problemas de uma nova direção – como para aprender sozinho. O analfabeto de amanhã não será o homem que não sabe ler; ele será o homem que não aprendeu a aprender”.

Entretanto, onde entra a relação de empreendedorismo, hackathons e aprendizagem? Exatamente no âmbito comportamental que Schumpeter (1962) tanto traz em seus ensinamentos sobre o tema. Até por isso, hackathons têm em seu histórico de uso como uma ferramenta que não só auxilia na seleção de novos talentos por grandes organizações, mas na moldagem e formação desses talentos.


Fonte: própria autoria – Ideathon Paraná 2023

Posso afirmar que ao gerir uma atividade como um hackathon, mais especificamente chamado de ideathon para jovens, existe uma facilidade maior desse perfil (jovens) em compreender e aplicar as habilidades necessárias para cumprimento da jornada de aprendizagem (vide artigo sobre os comportamentos sugeridos pelo empreendedor nas diferentes fases de criação de um negócio). Muito porque os conceitos ensinados estão muito associados ao conceito de design thinking, que busca auxiliar pessoas em lidar com situação ambíguas, ou seja, quando não há um consenso sobre o significado de algo. Até por isso, levanto mais uma questão: quando foi a última vez que esteve em algum tipo de encontro onde era necessário discutir o significado de algo junto a outros interessados?

Farei uma breve menção sobre um outro tema, mas como não quero tornar esse artigo ainda mais maçante, não entrarei a fundo. Talvez, muitos não saibam, mas pode-se dizer que a principal diferença entre uma “brincadeira” e um “jogo” é a simples existência de regras que caracteriza o segundo. O que isso quer dizer e como eu relaciono com o assunto deste post? Significa que se você estiver participando de alguma atividade que por mais divertida que seja, e ela possuir algumas regras pré-definidas, você está dentro de uma espécie de jogo. Entretanto, se a própria discussão do que pode ou não pode ser feito, faz parte da atividade, você está fazendo parte de uma brincadeira.

Por isso, dizemos que “brincadeira” é coisa de criança, mesmo sabendo que essas mesmas crianças são as mais animadas quando fazem parte de algum tipo de jogo. Mas a grande verdade é que “brincar” não é brincadeira para qualquer um, pois é necessário se ter algumas habilidades que nós adultos vamos perdendo com o passar dos anos. Dentre elas está a tolerância e a capacidade de iniciar coisas que não têm significado. Alguns estudos de Vygotsky (1987) trazem a brincadeira como algo tão antigo e tão importante para a sociedade que até algumas espécies menos inteligentes são capazes de fazer. Quem nunca viu, por exemplo, cachorros que nunca se viram iniciar uma brincadeira de morde, puxa, se enrola etc. até o ponto de haver de um dos lados a imposição de um “limite”? Trata-se de uma atividade de discussão dinâmica entre partes.

Pois bem! A maioria dos problemas mais complexos da sociedade, onde adultos estão na liderança, alguns comportamentos de crianças são cruciais. Problemas complexos não possuem nome e/ou sobrenome, seu significado e a relação de cada um com ele é diferente para cada lente que age ou observa, portanto, habilidade para coletivamente “discutir regras”, como uma brincadeira de criança, parece algo de valor muito alto. Por fim, sempre que realizo workshops comportamentais associados a empreendedorismo com adultos, costumo presentear alguns participantes com brindes e/ou mentorias por meio de um quizz que desafia o entendimento de cada um sobre seu comportamento empreendedor.


fonte: própria autoria – Ideathon Paraná 2023

Pois bem, por se tratar de perguntas sobre comportamento empreendedor e questões não tão concretas assim, adivinhem qual foi o resultado quando comparado performance de adultos e crianças? Não vou dizer muito além de: o histórico de resultado de acertos e pontuação do Kahoot nunca foi tão alto quanto ao conquistado pelo pequenos que participaram da competição em outubro de 2023 😉

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REFERENCES

  • Bauman, Z. (2001). Consuming Life. Journal of Consumer Culture, 1(1), 9-29. https://doi.org/10.1177/146954050100100102.
  • Ritzer, G. (2014). Prosumption: Evolution, revolution, or eternal return of the same? Journal of Consumer Culture, 14(1), 3-24. https://doi.org/10.1177/1469540513509641.
  • Toffler, Alvin. Future Shock. New York: Random House, 1970.
  • Gerjuoy, I. R., Gerjuoy, H., & Mathias, R. (1964). Probability learning: Left-right variables and response latency. Journal of Experimental Psychology, 68(4), 344–350. https://doi.org/10.1037/h0043843.
  • Schumpeter, Joseph A., 1883-1950. Capitalism, Socialism, and Democracy. New York :Harper & Row, 1962.
  • Vygotski, Liev S. La Imaginacion y el Arte en La Infancia (Ensayo psicológico). Colonian del Carmen: Ediciones y Distribuciones Hispánicas, 1987.

 

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